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26 de abr. de 2013

Pedras 90



Antes de qualquer coisa, meu pedido de desculpas para quem já leu este post, pois o mesmo foi para o ar antes da conclusão por descuido e falta de tempo de minha parte e até um pouco de falta de inspiração.

Anos 90 e tempo bom ...

Os sambas que  pegavam fogo vinham da escola de Martinho da Vila, Roberto Ribeiro, Alcione, Beth Carvalho, João Nogueira e Clara Nunes, que chegaram a beber na fonte de Cartola, Mano Décio, Nelson Cavaquinho entre tantos outros.

Já  despontava o pessoal do Cacique de Ramos, como Almir Guineto, Jorge Aragão, Zeca Pagodinho, Mauro Diniz.

O Grupo Fundo de Quintal ia substituindo os instrumentos de baquetas como surdo e repinique pelo tantã e repique de mão e reintroduzindo o banjo no samba com a afinação do cavaquinho "re,sol,si,re". Este instrumento já era muito utilizado no samba e no choro do inicio do século, porém com afinação tenor ou americana e de bandolim.

"Os Oito Batutas"


Os batuqueiros no inicio dos anos 90 ainda levavam o pandeiro e o tamborim na mão para o samba, pois não se tinha capa nem estojo com a facilidade de hoje.
Para captação das cordas usávamos um captador do tamanho de um celular preso na boca do instrumento com um fio curto e fino que era ligado na “caixa”; todo samba alguém já mais “exaltado” acabava se enroscando nessas modestas ligações e o pagode acabava ficando acústico, talvez seja dai a preferência de muitos cavaquinistas pelo banjo na época.

Os busões mais modernos da saudosa viação Castro foram equipados com rádio FM, e podíamos ir batucando na marmita ou na tampa do motor os sambas da rádio Manchete que veiculava três vezes por dia o programa Sambalanço que só tocava Samba, ouve até o "1º Festival Manchete de Pagode"  que resultou em um disco gravado ao vivo no Clube Palmeiras, o festival  revelou os interpretes  Royce do Cavaco e Aldo Bueno.

Busão da Castro - São Domingos/Bandeira
 Foi em uma dessas viagens animadas de ônibus que conheci o Joãozinho do Pandeiro, e através dele a maioria da rapaziada do Samba aqui do bairro e que já faziam os pagodes de final de semana nos saudosos botecos da Estela, bar da escada, bar do Geraldinho entre tantos outros.
Hoje passados todos esses anos ainda me recordo o dia que decidimos montar um grupo de pagode e cada um escreveu em um papelzinho um nome para sortearmos, se bem me recordo fui o sorteado mais resolvemos abrir todos os papeizinhos e decidimos pelo nome "Grupo Raiz do Samba" dado pelo amigo Ticolino.
O repertório era basicamente o que se tocava nas rádios e algumas composições inéditas até hoje, também existiam revistas de banca de jornal com a letra e a cifra dos sambas, era a melhor forma de aprender a tocar e pegar a letra, pois o disco mesmo naqueles dias já eram caros.

Revista Pagodeiros.
Compartilhávamos a roupa, calçados e idéias e quem conseguia um “registradinho” dava uma forcinha, com a compra de cordas, couros e ainda patrocinava as brejas, já que todos praticamente foram viver de música, a união era muito forte entra a rapaziada, até algumas gírias foram surgindo entre a turma ali da Samba :
  • “Liga=sujeito chato” 
  • “Lauera=relaxado(a)”
  • “Registradinho=emprego”
  • “Esqueminha=festa” 
  • “Mandar o Lima=faltar” 
  •  “Paga= cache ou couvert” 
  •  “Paradinha=centro de umbanda"
  •  "Maldado=ruim ou bêbado"
Hoje quem dobra a esquina da rua Cardeal Arco Verde com a Av. Eusébio Matoso vê um posto de combustível, mais exatamente nessa esquina funcionava um barzinho chamado “Menino do Rio” onde fizemos as nossas primeiras apresentações e com direito a uma “paguinha”  no final da madrugada.
Encaramos a  noite paulistana e tocamos em todo o circuito de bares, botecos, bimbocas e boates, seja  de samba ou não, que se tenha noticia naquela época, em destaques: Bar da Bete Z/S, Santana Samba Z/N, Sem Compromisso, Podium, Chapolin, Esculacho Z/L, "aqui na Z/O" Balancê e Butekão do nosso saudoso professor +Osvaldão, Brasileirinho Bar, Vila Amada, Clube da Esquina, e o  JB Samba,  que foi a maior referencia de casa de samba na minha opinião; chegaram a ter três casas aqui e ainda traziam as grandes atrações do Rio de Janeiro como Roberto Ribeiro, Clementina de Jesus, Dona Ivone Lara, Zeca Pagodinho, Almir Guineto, e com o tradicional "pagode de primeira na segunda", o SPC e a Boate Vila Verde do Mestre Genaro da Bahia mais para o “Centrão” também fizeram parte do nosso circuito de apresentações, assim como a quadra da Camisa Verde e Branco, com as suas memoráveis festas.

+Osvaldo Martins da Cruz, o Osvaldão 

JB-Sambar

Fomos apresentados ao Sr. Geraldo Filme que era amigo e vizinho do “Joãozinho do Pandeiro” lá na Cohab do João XXIII.

O "Geraldão da Casa Verde" arrumou para o grupo um emprego fixo na  Paulistur no projeto São Paulo Samba, que contava com a participação de Mestre Talismã, Ideval, Borba e vários artistas e grupos, o Show era apresentado pelo “Mestre Nicanor” e alternava-se entre as zonas Leste, Oeste, Norte e Sul de São Paulo aos domingos, e com isto o grupo ganhou uma forma mais profissional e dinâmica de se apresentar  no palco, e buscava sempre inovar com alguma coisa.
Naquelas tardes ensolaradas de domingo fazíamos nosso pagode de mesa no bairro e promovíamos com nosso amigo Carlão os bailes musicados nos salões das Igrejas aqui da região, o mais  legal dessas festas é que praticamente todos os moradores do nosso bairro compareciam, sem a exceção do vigário que aparecia pouco antes da missa para pedir um breque e ficava algum tempinho por ali, além das participações especiais de outros grupos da região.





Virou febre os festivais de Samba e Pagode nas casas noturnas e escolas de samba, chegamos a conquistar um na zona leste no “Podium” com a musica “chover de novo”, Moisés da Rocha o apresentador do programa O samba pede passagem estava entre os jurados, foi emocionante ver na plateia todos nossos amigos na torcida com faixas camisetas e bonés estampados pelos amigos do silk lá da galeria 24 de Maio, todos dando a maior força imaginável.


"Capa da Bolacha"


Chover de Novo

Uma curiosidade muito legal é que fomos nós os músicos de estúdio da faixa e passamos de prima, sem erros durante a gravação, já que era comum os produtores arregimentar músicos especialistas por questão de qualidade e de custos também.

O pagode atingiu a mídia com força total e com isso uma turma de músicos e produtores da pesada começaram a tomar gosto pelo gênero, e muita gente passou a ganhar rios de dinheiro da noite pro dia, infelizmente era preciso pagar o famoso jabá para tocar no rádio e era muito comum a gente comprar fitas de fichas de orelhão e ficar ligando pedindo para tocar a nossa musica.
Com todo esse clima atual de Copa do Mundo aqui no Brasil recordei-me que durante a Copa do Mundo de 1994 estávamos em uma viagem no litoral tocando em um clube, e assistimos juntos a vitória da Seleção sobre a Itália, quem não se lembra do pênalti do Roberto Baggio?. Lá no clube uma senhora entrou no camarim e perguntou quanto o grupo queria para não subir mais no palco alegando não conhecer as musicas do nosso repertório, prontamente mudamos a cara de grupo de pagode para grupo regional, tocando choro e marchinhas de carnaval, o que veio a agradar muito o gosto da senhora na plateia.
Tivemos ainda a honra de participarmos do comercial publicitário para a cervejaria Brahma veiculado  junto com o nosso ainda capitão Dunga, com direito a muito churrasco gaúcho e cerveja a vontade, diga-se de passagem apreciávamos bem esse tipo de coisa.

Não tivemos padrinho, empresário ou líder e a cada dia ficava mais difícil lutar contra a concorrência de tantos grupos apadrinhados, e logo estaríamos abrindo show de grupos que deram canja nos clubes noturnos que tocávamos, o samba mais uma vez estava em fase transitória, a batucada pesada estava dando lugar para a bateria o contra baixo roubou a cena do violão e o cavaco não fazia mais introdução e sim o teclado, era desgastante dava pra sentir na pele da rapaziada mais velha do grupo a tristeza mesmo atrás do eterno sorriso alegre para a plateia que nos prestigiava.
A base do grupo foi se desfazendo e no fim cada um resolveu seguir sua estrada, contudo o mais importante foi de alguma forma ter colaborado um pouquinho com a nossa cultura, ter frequentado tantos ambientes alegres,  ter feitos tantos amigos, essa é a "nossa Raiz do Samba".

João, Miguelli, Luis, Cleber, Zé Luis e Alipio (Improviso em 2009)


Pratas da casa:

Pandeiro: Tico, Joãozinho, Ricardinho e Didu
Repique:  Biulla
Tam Tam: +Luis Carlos, Alipio, Val e Luis da Timba
Rebolo: +Luis Carlos, Prego e Juá
Reco Reco: Gê, Toninho, Julio Marcos e Décio haa
Cavaquinho: Bicudo, Ricardo e Leandro
Banjo: Alex Bocão e Paulinho Pé
Percussão geral: Dininho
Violão: +Lazão, +Carlão, Belotti ,Vudu e (+Ademir (Daniel)  24/07/2013)
Contra Baixo: Luciano e Bicudo


“Hiiiiiiiiiiiiiiiiii Raiz do Samba”