Páginas

14 de dez. de 2013

Complexo de vira-lata

O ano está chegando ao fim e para o próximo um grande evento nos espera, a Copa do Mundo que iremos sediar, diante de tantas opiniões e tantas controvérsias com a construção de novos estádios alguns apoiam e outros não.
Promessa de vamos "parar tudo" e muita gente assustada, com medo até de atentados terroristas.

Mas será que isso é coisa de agora?

"Complexo de vira-lata" foi a expressão usada pelo escritor Nelson Rodrigues, a princípio  para  a nossa derrota diante da seleção do Uruguai por 2 x 1 dentro  do novíssimo em folha Estadio do Maracanã ou Maracanaço em Espanhol, Maracanazo como diziam os nosso  adversários em tom de deboche.
Sim foi o famoso "morrinho artilheiro" que colocou a bola para dentro raspando na trave que fez calar a voz de milhões.

Seleção Brasileira escalada para a partida decisiva contra o Uruguai. De pé: Barbosa, Augusto, Danilo, Juvenal, Bauer e Bigode. Agachados: Jonhson (massagista), Friaça, Zizinho, Ademir Queixada, Jair, Chico e Mario Americo (massagista).
 
Erguido pela quantia aproximada de 240 mil cruzeiros na época e em cerca de 1 ano e meio,  antecederam  também  protestos da população com o aumento do preço da passagem do bonde em 150% pelos anos de 1947, os paulistas foram às ruas picharam, depredaram. queimaram bondes da Companhia Metropolitana de Transporte Coletivos carinhosamente apelidada de "Custa Mais de Trinta Centavos".

Políticos da época também se desentendiam, como Carlos Lacerda que era contra o local escolhido para a construção do estádio, já o jornalista Mario Rodrigues Filho, irmão de Nelson Rodrigues, foi o maior apoiador da obra, com sua morte em 1966 o "Maraca" ganhou seu nome oficial, Estádio Jornalista Mário Filho.

Viram só? Essa coisa de protestos por 20 centavos da passagem, de ex jogador a favor brigando contra deputado ex jogador do contra, não tem nada de modernismo.
Do nosso povo ser usado e enganado muito menos, não fomos escolhidos por acaso em 50 para sediar a copa, é que a Europa estava toda detonada pela segunda guerra, para os Franceses aqui era longe demais e não eramos um país sério segundo "Charles de Gaulle", portanto a seleção Francesa não veio.
Em compensação, o Presidente Getúlio Vargas mandou o Brasil em 44 por a cara com a FEB e a FAB lá na Itália que era  logo ali, onde  muito sangue Brasileiro foi derramado pelos nossos pracinhas e pilotos, senão hoje muita gente estaria falando alemão, inclusive quem acha que aqui é a Bolivia como "Ronald Reagan".

Infelizmente pouca gente tem conhecimento de quanto se gasta em Interlagos para a corrida de Fórmula 1 acontecer, e o valor cobrado do ingresso passa e passa batido muito mais rápido que os carros à 300 por hora, mal a prova se acaba e já estamos pensando no 13º  e se  o sambódromo vai  ter um bom sistema de som em fevereiro e se a nossa escola vai ganhar o carnaval.

Agora mais uma vez o Brasil se levantou mesmo que tímido e espionado ainda com "Complexo de vira-lata". Com avisos de "Caution and Welcome to Brazil" para os nossos antigos adversários nas cancelas de nossos aeroportos, quando aqui chegarem novamente na Terra de Vera Cruz, preocupados com as recomendações do Ministério de Relações Exteriores do Reino Unido.
Claro o Brasil não é nenhuma  The Falkland Islands nem  parecido,  assim como Jean Charles de Menezes não era irmão gemeo de Hamdi Adus Isaac e foi confundido pelo S019 e morto, por conta disso não fizemos manual de sobrevivência para andarmos de metro em Londres.

Vi o povo  desafiar o sistema  com pau e pedra  nas ruas com coragem e muitos infelizmente reprisando os épicos episódios de  1947, não cabe a ninguém julga-los.
E agora vamos enfrentar o mundo que acha que somos os piores por não sabermos fazer os melhores carros, telefones etc... também não somos os melhores em fazer bombas e submarinos nucleares  e nem queremos ser,  para o resto do mundo somos um grande salão de festas com potenciais batedores de carteiras e garçons que facilitam as comandas, no fundo os gringos sabem que pagamos nossos impostos e pagamos caro, com a seriedade dignidade de qualquer cidadão do "primeiro mundo" e que isso fique bem claro,.
Ficar aqui na frente do computador escrevendo inquietações não muda o pais em absolutamente nada,  nem ir quebrar a Paulista toda como já foi visto, nossa mudança e legado está la no "Itaquerão" entre outros monumentais estádios erguidos com nosso suor, acredite que cada  tijolinho você que pagou assim como eu, não foram políticos nem jogadores  que moram europa, muito menos os convidados para a festa.





Um Feliz Natal um Ano Novo Cheio de Vitórias para todos.

Vamos cantar com Dona Ivone e Delcio Carvalho que a pouco mais de um mês nos deixou  Saudades.


É Natal

É Natal
Toda humanidade canta em coro suas canções
Boas Festas entre mil votos de felicidades
Neste mundo cheio de mágoas e ansiedades
É Natal
Novas esperanças
Pai Noel sempre prometeu
Brinquedos pras crianças
As que ele escolheu
Saúde e bonança
Pois Cristo Deus nasceu
Nesta noite, minha gente
Faz do samba oração
Choros e canções
Enchem o ar de emoção
É bonito e comovente
Sem ninguém pra comandar
O maior presente
É fazer esse povo amar

 



fontes:

26 de abr. de 2013

Pedras 90



Antes de qualquer coisa, meu pedido de desculpas para quem já leu este post, pois o mesmo foi para o ar antes da conclusão por descuido e falta de tempo de minha parte e até um pouco de falta de inspiração.

Anos 90 e tempo bom ...

Os sambas que  pegavam fogo vinham da escola de Martinho da Vila, Roberto Ribeiro, Alcione, Beth Carvalho, João Nogueira e Clara Nunes, que chegaram a beber na fonte de Cartola, Mano Décio, Nelson Cavaquinho entre tantos outros.

Já  despontava o pessoal do Cacique de Ramos, como Almir Guineto, Jorge Aragão, Zeca Pagodinho, Mauro Diniz.

O Grupo Fundo de Quintal ia substituindo os instrumentos de baquetas como surdo e repinique pelo tantã e repique de mão e reintroduzindo o banjo no samba com a afinação do cavaquinho "re,sol,si,re". Este instrumento já era muito utilizado no samba e no choro do inicio do século, porém com afinação tenor ou americana e de bandolim.

"Os Oito Batutas"


Os batuqueiros no inicio dos anos 90 ainda levavam o pandeiro e o tamborim na mão para o samba, pois não se tinha capa nem estojo com a facilidade de hoje.
Para captação das cordas usávamos um captador do tamanho de um celular preso na boca do instrumento com um fio curto e fino que era ligado na “caixa”; todo samba alguém já mais “exaltado” acabava se enroscando nessas modestas ligações e o pagode acabava ficando acústico, talvez seja dai a preferência de muitos cavaquinistas pelo banjo na época.

Os busões mais modernos da saudosa viação Castro foram equipados com rádio FM, e podíamos ir batucando na marmita ou na tampa do motor os sambas da rádio Manchete que veiculava três vezes por dia o programa Sambalanço que só tocava Samba, ouve até o "1º Festival Manchete de Pagode"  que resultou em um disco gravado ao vivo no Clube Palmeiras, o festival  revelou os interpretes  Royce do Cavaco e Aldo Bueno.

Busão da Castro - São Domingos/Bandeira
 Foi em uma dessas viagens animadas de ônibus que conheci o Joãozinho do Pandeiro, e através dele a maioria da rapaziada do Samba aqui do bairro e que já faziam os pagodes de final de semana nos saudosos botecos da Estela, bar da escada, bar do Geraldinho entre tantos outros.
Hoje passados todos esses anos ainda me recordo o dia que decidimos montar um grupo de pagode e cada um escreveu em um papelzinho um nome para sortearmos, se bem me recordo fui o sorteado mais resolvemos abrir todos os papeizinhos e decidimos pelo nome "Grupo Raiz do Samba" dado pelo amigo Ticolino.
O repertório era basicamente o que se tocava nas rádios e algumas composições inéditas até hoje, também existiam revistas de banca de jornal com a letra e a cifra dos sambas, era a melhor forma de aprender a tocar e pegar a letra, pois o disco mesmo naqueles dias já eram caros.

Revista Pagodeiros.
Compartilhávamos a roupa, calçados e idéias e quem conseguia um “registradinho” dava uma forcinha, com a compra de cordas, couros e ainda patrocinava as brejas, já que todos praticamente foram viver de música, a união era muito forte entra a rapaziada, até algumas gírias foram surgindo entre a turma ali da Samba :
  • “Liga=sujeito chato” 
  • “Lauera=relaxado(a)”
  • “Registradinho=emprego”
  • “Esqueminha=festa” 
  • “Mandar o Lima=faltar” 
  •  “Paga= cache ou couvert” 
  •  “Paradinha=centro de umbanda"
  •  "Maldado=ruim ou bêbado"
Hoje quem dobra a esquina da rua Cardeal Arco Verde com a Av. Eusébio Matoso vê um posto de combustível, mais exatamente nessa esquina funcionava um barzinho chamado “Menino do Rio” onde fizemos as nossas primeiras apresentações e com direito a uma “paguinha”  no final da madrugada.
Encaramos a  noite paulistana e tocamos em todo o circuito de bares, botecos, bimbocas e boates, seja  de samba ou não, que se tenha noticia naquela época, em destaques: Bar da Bete Z/S, Santana Samba Z/N, Sem Compromisso, Podium, Chapolin, Esculacho Z/L, "aqui na Z/O" Balancê e Butekão do nosso saudoso professor +Osvaldão, Brasileirinho Bar, Vila Amada, Clube da Esquina, e o  JB Samba,  que foi a maior referencia de casa de samba na minha opinião; chegaram a ter três casas aqui e ainda traziam as grandes atrações do Rio de Janeiro como Roberto Ribeiro, Clementina de Jesus, Dona Ivone Lara, Zeca Pagodinho, Almir Guineto, e com o tradicional "pagode de primeira na segunda", o SPC e a Boate Vila Verde do Mestre Genaro da Bahia mais para o “Centrão” também fizeram parte do nosso circuito de apresentações, assim como a quadra da Camisa Verde e Branco, com as suas memoráveis festas.

+Osvaldo Martins da Cruz, o Osvaldão 

JB-Sambar

Fomos apresentados ao Sr. Geraldo Filme que era amigo e vizinho do “Joãozinho do Pandeiro” lá na Cohab do João XXIII.

O "Geraldão da Casa Verde" arrumou para o grupo um emprego fixo na  Paulistur no projeto São Paulo Samba, que contava com a participação de Mestre Talismã, Ideval, Borba e vários artistas e grupos, o Show era apresentado pelo “Mestre Nicanor” e alternava-se entre as zonas Leste, Oeste, Norte e Sul de São Paulo aos domingos, e com isto o grupo ganhou uma forma mais profissional e dinâmica de se apresentar  no palco, e buscava sempre inovar com alguma coisa.
Naquelas tardes ensolaradas de domingo fazíamos nosso pagode de mesa no bairro e promovíamos com nosso amigo Carlão os bailes musicados nos salões das Igrejas aqui da região, o mais  legal dessas festas é que praticamente todos os moradores do nosso bairro compareciam, sem a exceção do vigário que aparecia pouco antes da missa para pedir um breque e ficava algum tempinho por ali, além das participações especiais de outros grupos da região.





Virou febre os festivais de Samba e Pagode nas casas noturnas e escolas de samba, chegamos a conquistar um na zona leste no “Podium” com a musica “chover de novo”, Moisés da Rocha o apresentador do programa O samba pede passagem estava entre os jurados, foi emocionante ver na plateia todos nossos amigos na torcida com faixas camisetas e bonés estampados pelos amigos do silk lá da galeria 24 de Maio, todos dando a maior força imaginável.


"Capa da Bolacha"


Chover de Novo

Uma curiosidade muito legal é que fomos nós os músicos de estúdio da faixa e passamos de prima, sem erros durante a gravação, já que era comum os produtores arregimentar músicos especialistas por questão de qualidade e de custos também.

O pagode atingiu a mídia com força total e com isso uma turma de músicos e produtores da pesada começaram a tomar gosto pelo gênero, e muita gente passou a ganhar rios de dinheiro da noite pro dia, infelizmente era preciso pagar o famoso jabá para tocar no rádio e era muito comum a gente comprar fitas de fichas de orelhão e ficar ligando pedindo para tocar a nossa musica.
Com todo esse clima atual de Copa do Mundo aqui no Brasil recordei-me que durante a Copa do Mundo de 1994 estávamos em uma viagem no litoral tocando em um clube, e assistimos juntos a vitória da Seleção sobre a Itália, quem não se lembra do pênalti do Roberto Baggio?. Lá no clube uma senhora entrou no camarim e perguntou quanto o grupo queria para não subir mais no palco alegando não conhecer as musicas do nosso repertório, prontamente mudamos a cara de grupo de pagode para grupo regional, tocando choro e marchinhas de carnaval, o que veio a agradar muito o gosto da senhora na plateia.
Tivemos ainda a honra de participarmos do comercial publicitário para a cervejaria Brahma veiculado  junto com o nosso ainda capitão Dunga, com direito a muito churrasco gaúcho e cerveja a vontade, diga-se de passagem apreciávamos bem esse tipo de coisa.

Não tivemos padrinho, empresário ou líder e a cada dia ficava mais difícil lutar contra a concorrência de tantos grupos apadrinhados, e logo estaríamos abrindo show de grupos que deram canja nos clubes noturnos que tocávamos, o samba mais uma vez estava em fase transitória, a batucada pesada estava dando lugar para a bateria o contra baixo roubou a cena do violão e o cavaco não fazia mais introdução e sim o teclado, era desgastante dava pra sentir na pele da rapaziada mais velha do grupo a tristeza mesmo atrás do eterno sorriso alegre para a plateia que nos prestigiava.
A base do grupo foi se desfazendo e no fim cada um resolveu seguir sua estrada, contudo o mais importante foi de alguma forma ter colaborado um pouquinho com a nossa cultura, ter frequentado tantos ambientes alegres,  ter feitos tantos amigos, essa é a "nossa Raiz do Samba".

João, Miguelli, Luis, Cleber, Zé Luis e Alipio (Improviso em 2009)


Pratas da casa:

Pandeiro: Tico, Joãozinho, Ricardinho e Didu
Repique:  Biulla
Tam Tam: +Luis Carlos, Alipio, Val e Luis da Timba
Rebolo: +Luis Carlos, Prego e Juá
Reco Reco: Gê, Toninho, Julio Marcos e Décio haa
Cavaquinho: Bicudo, Ricardo e Leandro
Banjo: Alex Bocão e Paulinho Pé
Percussão geral: Dininho
Violão: +Lazão, +Carlão, Belotti ,Vudu e (+Ademir (Daniel)  24/07/2013)
Contra Baixo: Luciano e Bicudo


“Hiiiiiiiiiiiiiiiiii Raiz do Samba”