Atualizado em 02/11/2011
Nelson Antonio da Silva nasceu em 28 de Outubro de 1911 na cidade do Rio de janeiro. Seus pais eram, Maria Paula da Silva, que era lavadeira no Convento das Carmelitas e levava Nelson para ter aula de catecismo e Brás Antonio da Silva que tocava tuba na banda da Policia Militar.
Nelson desde muito pequeno já fazia seus próprios instrumentos com caixas de madeira e arame para acompanhar seu pai e seu tio que tocavam violino nas reuniões de Família.
Nelson teve que largar os estudos ainda na 3ª serie para pegar no batente como ele mesmo dizia, foi trabalhar em uma fabrica de tecidos onde não ficou por muito tempo
Morou na rua Mariz e Barros na Tijuca, depois em Silva Manuel na Lapa, e para a Rua Joaquim Silva nos Arcos, depois foi para o subúrbio de Ricardo Albuquerque, até que, finalmente se estabeleceria no bairro da Gávea
Nelson começou a aprender a tocar cavaquinho sem instrumento pois não tinha dinheiro e vez ou outra conseguia um cavaquinho emprestado de alguém , seus primeiros companheiros de samba foram Brancura, Camisa Preta e Edgar.
Choro do Adeus - Nelson Cavaquinho
Pegava as coisas de ouvido vendo Heitor dos Prazeres, Juquinha violonista e Mazinho do Bandolim, logo compôs seu primeiro choro "Queda" e começou a fazer show mostrando-se um exímio solista e conseguiu por fim não só comprar seu cavaquinho como também ganhou o apelido de Nelson Cavaquinho que o acompanharia para sempre.
Nelson e Heitor |
“Eu ia tantas vezes em cana que já estava até me acostumando ao xadrez. Era tranquilo, ficava lá compondo, entre as músicas que fiz no xadrez está “Entre a Cruz e a Espada"
Levando uma vida de boêmio sua carreira na Policia logo acabaria e seu casamento também, ele ainda se casaria varias vezes mais seu grande amor era uma moradora de rua chamada Lígia, ao qual mandou fazer uma tatuagem com o nome dela em seu ombro direito.
O fato de passar boa parte de sua infância em ambiente religioso com sua mãe tornou Nelson um verdadeiro cristão e místico desprendido totalmente de bens materiais, chegava a distribuir seu cachê entre bêbedos, mendigos e prostitutas, ao qual ele tinha grande amizade.
Por volta da década de 50 ele troca o cavaquinho pelo violão, mais continuaria usando apenas o dedão e o dedo indicador da mão direita para ferir as cordas.
Sua primeira canção gravada foi "Não Faça Vontade a Ela", de 1939, por Alcides Gerardi
Compôs mais de 600 sambas muito deles inéditos e esquecidos pois ele não costumava escrevê-los e sim guardá-los em sua memória, outro fato é que ele vendia muitos de seus sambas, até mesmo os de parcerias feitos com grandes sambistas como Mestre Cartola, que chegou ao ponto de desfazer a parceria para não perder a amizade com Nelson, que por sua vez argumentaria que vendera só a sua parte de um samba não a do Cartola.
Muito embora seus sambas foram gravados por gente como: Elizeth Cardoso, Ciro Monteiro, Orlando Silva e Dalva de Oliveira, ele só entraria em estúdio para gravar seu primeiro disco com quase 60 anos de idade devido as gravadoras acharem estranho seu modo de tocar e mais estranha sua voz.
Rei Vadio
História de um valente - Nelson Cavaquinho - José Ribeiro |
Nelson e Cartola desfile da Mangueira |
Foi assim que conheceu seu parceiro mais constante Guilherme de Brito.
“Conheci o Nelson Cavaquinho no Café São Jorge. Nelson já era um sucesso, quando passava de manhã no botequim, estava aquele aglomerado de gente em volta de uma mesa. Às vezes eu voltava de noite, trabalhava o dia inteiro, e lá estava o Nelson com o seu violão. Até que um dia eu me atrevi e cheguei perto dele com a primeira parte de um samba, que foi "Garça", e falei: "Ô Nelson, vê se você gosta aqui...". Ele disse que estava ótimo e fez a segunda parte. Dali em diante seguimos até o fim da vida e fizemos um trato de compormos juntos, só eu e ele. Foi muito boa a parceria e fomos leais até o fim da vida dele. Se bem que ele pulou fora duas vezes durante esse período e compôs com outro cara, mas foi muito bom. Se ele estivesse vivo, estaríamos com certeza até hoje ligados um ao outro”.
A primeira parte do samba “Tatuagem” Guilherme fez pois era muito discriminado por uma tatuagem de Índio que ele tinha, tatuagem esta que até tentou tirar com castanha de caju, o que acabaria apenas com uma cicatriz na testa do Índio, Nelson terminaria o samba com versos já em homenagem a sua tatuagem do braço “Ligia”
Nelson era cultuado por gênios da MPB como Tom Jobim e Baden Powell.
Paulo Cesar Pinheiro que foi casado com Clara Nunes e era amigo e companheiro de Nelson estava sempre acompanhado de um gravador k7 onde registrou muita coisa inédita de Nelson e que acabaria sendo gravada pela cantora, sua grande intérprete.
Na década de 60 Nelson fazia diversas apresentações no Bar ZiCartola onde se tornou reconhecido pela mídia.
Teve participação no disco fala mangueira com Clementina de Jesus, Cartola, Carlos Cachaça e Odete Amaral de 1968
Gravou seu primeiro cd individual em 1970, e mais dois pela série documento e cantores da mpb. De 1972 e 1973
Vários artistas começaram a gravar seus sambas como : Nara Leão que gravou "A Flor e o Espinho" e "Luz Negra", Thelma Soares gravou um disco só com suas composições, Paulinho da Viola, Chico Buarque, Leny Andrade e Beth Carvalho.
Paulo César Pinheiro, Beth Carvalho, Nelson Cavaquinho, Chico Buarque, João Bosco, Carlinhos Vergueiro, Cristina Buarque e Mauro Duarte de 1985 para um disco em sua homenagem |
Esse reconhecimento musical trouxe a ele uma vida mais calma, conseguiu comprar uma casinha em Vila Esperança e casou-se novamente, sua esposa Durvalina que era 30 anos mais nova conseguiu afastar Nelson do Álcool e cigarros.
Nelson nos deixou em 1986 vitima de um enfisema pulmonar.
Euforia Nelson Cavaquinho, Eduardo Gudin e Roberto Riberti
Ao contrario do que se imagina, comparando suas letras sempre falando de morte, tristeza e desafetos amorosos, Nelson Cavaquinho era muito alegre e humilde. Um exemplo que muitos artistas deveriam prestar mais atenção, não deixou nenhum seguidor, mas uma imensa obra rica em versos e introduções de violão, que são dificílimas de imitar até hoje. Quem realmente é fã de Nelson Cavaquinho prefere ouvir seus sambas executados por ele mesmo e de forma mais reservada, longe de qualquer tipo de ruído, de preferência usando fones de ouvido e olhos fechados, esperando alguma escala improvisada nos bordões de seu violão e imaginando estar numa mesa de algum botequinho frente a frente ao mestre, pois assim era sua maior alegria cantar para quem realmente gostava de ouvi-lo.
Desconsolo -"ainda decorando a letra" - acervo HBC
Ficha Técnica:
Gênero: Curta / Documentário
Diretor: Leon Hirszman
Duração: 13 minutos
Ano de Lançamento: 1969
País de Origem: Brasil
Idioma do Áudio: Português
Compadre Nelson Cavaquinho
Onde anda você
Já me disseram que deixaste de beber
o seu conhaque
Sua Genebra bem amada
em suas mil ou mais moradas.
Você cantava a noite inteira
Com a batida diferente do seu violão
E nos bares da cidade
Bebia um vinho rascante
A rouquidão em sua voz era constante,
bem constante
E na Praça Tiradentes
Cantava seus sambas prá gente
depois saía com a viola prá lugares diferentes
A Lua foi sua companheira
E hoje está de luto com a Estação Primeira
A Lua foi sua companheira
E hoje está de luto com o Morro da Mangueira
Sabemos que o Brasil
e o mundo inteiro te conhece
Eu bato palmas prá você
porque você merece
Onde anda, eu quero ver o seu parceiro
O Guilherme deve estar coroa
E aqui prá nós
A dupla é muito boa
Eu tambem já compus alguma coisa
Já fiz sambas com você
Se hoje sou poeta, tive muito que aprender
{ Enriqueceu os versos meus
{ O meu muito obrigado, adeus
{ meu criador
Onde anda você
Já me disseram que deixaste de beber
o seu conhaque
Sua Genebra bem amada
em suas mil ou mais moradas.
Você cantava a noite inteira
Com a batida diferente do seu violão
E nos bares da cidade
Bebia um vinho rascante
A rouquidão em sua voz era constante,
bem constante
E na Praça Tiradentes
Cantava seus sambas prá gente
depois saía com a viola prá lugares diferentes
A Lua foi sua companheira
E hoje está de luto com a Estação Primeira
A Lua foi sua companheira
E hoje está de luto com o Morro da Mangueira
Sabemos que o Brasil
e o mundo inteiro te conhece
Eu bato palmas prá você
porque você merece
Onde anda, eu quero ver o seu parceiro
O Guilherme deve estar coroa
E aqui prá nós
A dupla é muito boa
Eu tambem já compus alguma coisa
Já fiz sambas com você
Se hoje sou poeta, tive muito que aprender
{ Enriqueceu os versos meus
{ O meu muito obrigado, adeus
{ meu criador
Família de Nelson fala sobre a homenagem feita pela Mangueira
Fontes: