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31 de dez. de 2010

O samba carioca não nasceu no morro


Conferência de Almirante no Primeiro Congresso Brasileiro de Folclore
Segunda-feira, à noite, na Escola Nacional de Música, para membros do Congresso Brasileiro de Folclore e outros interessados, Almirante fez uma palestra sobre o samba carioca. Palestra simples, que, modestamente, ele apresentou como a contribuição despretensiosa de um mero curioso do assunto, mas que, como logo foi verificado, resultou em uma colaboração magnífica para o conhecimento da história e evolução da nossa música popular. Foram minutos agradáveis, principalmente pelo tom de que se revestiu a exposição, clara e leve, ainda ilustrada pela participação de vários dos melhores e autênticos sambistas, autores e intérpretes.

Na ocasião, Almirante defendeu o seu ponto de vista, já conhecido, de que "o samba carioca não nasceu no morro". E, ao fazê-lo, trouxe a confirmação e a palavra autorizada de alguns daqueles que acompanham o samba desde os primeiros passos, como Pixinguinha — o grande Pixinga, João da Baiana — com o laço de fita preta ao colarinho e fazendo a marcação no mesmo pandeiro que recebeu de Pinheiro Machado em 1903, Heitor dos Prazeres — com os olhos miúdos dançando atrás dos óculos sem aros e dedilhando as cordas do mesmo cavaquinho "pega-janta" dos saudosos tempos da casa da tia Ciata.

Durante a palestra de Almirante, tiramos as notas que se seguem.
A palavra "samba" designando o gênero de música popular carioca surge em agosto de 1916, em Pelo telefone. Mas o ritmo já veio de muito antes, em meio às diversas designações.

Almirante recorre aos arquivos, à procura de exemplos. Que ele próprio canta, enquanto Arlindo, Darli e Araújo fazem o fundo musical, de cavaquinho e violões. De 1915, uma polca:

Ai, ai, é da minha
A urucubaca da miudinha
Ai, ai, é da grossa
A urucubaca da perna grossa

Por volta de 1906, uma chula motivo do cordão Filhos da Jardineira:

Não deixa tirar
A rosa da roseira
Ai, ai, ai
Formosa jardineira

De 1905, uma cantiga popular das ruas, sem classificação:

Eu vou beber
Eu vou me embriagar
Eu vou fazer barulho
Para a polícia me pegar

E até de 1889, na peça teatral O bedengó, o tango brasileiro Terra do vatapá:

Eu sou da terra do vatapá
Moqueca, ioiô, moqueca, ioiô
Lá no fundo do sertão
Tem uma moça bonita

Realmente, certifica-se que o tango brasileiro de 1889, a cantiga não classificada de 1905, a chula de 1906 e a polca de 1915, seriam sambas nos dias de agora.
A toada já existia, portanto, às vezes, em ritmo um pouco diferente, mais ligada às formas de denominações estabelecidas. E a sua apresentação era feita, geralmente, por ocasião das festas das baianas — que estas eram muitas, aqui no Rio — durante os presépios e lapinhas, as comemorações de Natal até Reis, quando os diversos ranchos saíam à rua para a troca de cumprimentos em evoluções próprias. Então, formava-se o "samba", a roda em que se batia o "baiano" ou "rojão", dançado ao som dos violões e cavaquinhos que ponteavam, com os intervalos cheios pelo solo do canto.

E Almirante lembra das músicas de 1906, mais ou menos:

Eu bem dizia, ó baiana
Dois metros sobravam
Saia de baião, babadão
Meio metro dava

E observa a mesma cadência do samba de hoje.

Ora, as baianas no Rio moravam pela Cidade Nova, principalmente. Entre elas, as mais célebres: Gracinda e Bibiana, em São Domingos; Ciata, na rua da Alfândega, Teresa — Tetéia, na rua Luiz de Camões. As outras, em Senador Pompeu, Barão de São Félix e adjacências. Assim, a música de origem nas suas cerimônias não veio do morro.

Aconteceu, entretanto, que por causa das ruas estreitas — como eram aquelas (e algumas ainda o são) — o samba das baianas não despertou maior interesse senão quando a tia Ciata se mudou para o 117 da rua Visconde de Itaúna, junto à praça Onze de Junho, nas proximidades da qual também havia, como motivos de atração, diversas sociedades recreativas — e carnavalescas, por excelência — como Cananga do Japão, Paladinos da Cidade Nova, União dos Amores, entre outras, e, mais, a casa sempre freqüentada de um macumbeiro célebre, pai Anselmo.

Na casa da tia Ciata, em tono de 1916, reuniam-se os mais famosos autores e intérpretes da música popular da época, aqueles que iriam ser os responsáveis pelo novo gênero, dando-lhe a designação e forma definitiva.

E Almirante lembra alguns nomes, todos de gente de longe do morro: João da Mata, tenente Hilário, Germano Lopes da Silva, Ernesto dos Santos (o Donga), Marinho ("Marinho, que toca!..."), José Luís de Morais (o Caninha) e, principalmente, José Barbosa da Silva (o Sinhô), além dos citados.

Foi daí, da casa da tia Ciata, firmado por Ernesto dos Santos — o Donga — e Mauro de Almeida, que saiu Pelo telefone, o primeiro samba carioca, sob essa denominação, oficialmente:

O chefe da folia
Pelo telefone, mandou-me avisar
Que com alegria
Não se questione, para se brincar


Ai, ai, ai
Deixa as mágoas para trás
Ó rapaz
Ai, ai, ai
Fica triste, se és capaz
E verás


Tomara que tu apanhes
Pra não tornar a fazer isso
Roubar amores dos outros
Depois, fazer teu feitiço


Oi, a rolinha, sinhô, sinhô
Se embaraçou, sinhô, sinhô
Caiu no laço, sinhô, sinhô
Do nosso amor, sinhô, sinhô


Porque este samba, sinhô, sinhô
De arrepiar, sinhô, sinhô
Põe a perna bamba, sinhô, sinhô
Mas faz gozar

Mais uma vez, Almirante observa a semelhança de Pelo telefone às músicas da época, das quais sofreu a influência, inevitável, resultando como que em uma colcha de retalhos: até a música sertaneja, que para o Rio de Janeiro fora trazida por João Pernambuco, em 1913, oferece motivos na última parte:
Oi, a rolinha, sinhô, sinhô
Nada de morro, portanto.
Evidentemente, o novo gênero não foi logo fixado. Ainda em 1920, por exemplo, um autor dos méritos de Eduardo Souto chamava samba a esta sua música, muito tocada e cantada, autêntica marchinha carioca:

Levanta o pé
Esconde a mão
Eu quero ver
Se tu gostas de mim ou não

Mas em seguida a Pelo telefone (também chamado Roceiro) e até nas discussões em torno do seu aparecimento, foram aparecendo novas composições, ao seu gênero, que assim foi tomando forma e assumindo o tipo determinado. Nestes primeiros passos, trazidos por aqueles nomes citados linhas atrás, o samba nada teve com o morro, em várias ocasiões, animado por tantos e tantos autores célebres, como J. F. Freitas, Eduardo Souto, Cardoso de Menezes, Bequinho, Luís Nunes (o Careca), Freire Júnior, Joubert de Carvalho, Costinha, Romeu Silva, Duque, Wantuil de Carvalho, Ary Kerner, Lamartine Babo, Noel Rosa, Ari Barroso e muitos outros.

— Admita-se, portanto, que o samba carioca não nasceu no morro. Não porque houvesse algum mal se assim tivesse sido. É que não foi , apenas...


 Almirante. "O samba carioca não nasceu no morro". Correio da Manhã. Rio de Janeiro, 02 de setembro de 1951





Depoimento de Donga ao Miss-RJ

18 de dez. de 2010

Noel é 100

Noel Rosa

Nasceu em 11/12/1910 na Rua Theodoro da Silva nº 396 Vila Isabel, na casa de herança de seus ancestrais que ali também viveram .
Chalé Modesto de Noel Rosa
Seu Pai Manuel de Medeiros Garcia da Rosa e sua Mãe Marta de Medeiros Rosa 
Profissão "CANTOR"
 
Quando nasceu, devido a complicações no parto Noel teve seu Maxilar quebrado, o que lhe deixou com defeito na face na região do queixo e que mais tarde lhe rendera um apelido que o deixava muito triste.
 "1923” Conta Almirante que precisava de um projetor e descobriu que um certo rapaz franzino que andava pelo bairro com uniforme do colégio possuía este aparelho para vender...
Este rapaz era NOEL ROSA
Queria Noel 20 mil Réis, quantia esta muito alta tendo em vista que um aluguel na época custava 80 mil Réis. O negocio não fechou entre eles. 
O tempo ali se passou ...quando por volta de 1927 um conjunto chamado Turunas da Muricéia fazia grande sucesso com suas emboladas.
Noel então escreve a sua própria embolada “Minha Viola”por volta de “28/29” já citando o surto de Febre amarela que atingiu o estado do Rio nessa época.

"1929” Alvaro Miranda Ribeiro, “Carlos Braga”, Almirante e Henrique Brito tinham um grupo ainda Chamado de “Flor do Tempo”. O Conjunto precisou passar por uma reformulação e precisaram de um bandolinista e então convocaram Noel Rosa.
Carlos Braga deu o nome ao novo conjunto, “Bando de Tangarás”. Uma curiosidade  que eles descobriram é que esses pássaros cantam em bando de “4" e um outro pássaro responde, Carlos Braga decidiu então que todos mudassem seus nomes para nomes de pássaros, porém todos recusaram mas ele estava decidido e passou a se chamar musicalmente “João de Barro”
Esse grupo logo se caracterizou pela batucadae  pelo som dos tamborins e tambores .
Homero Dornelas apresentou a Almirante um samba Chamado “Na Pavuna" que de momento não o agradou mas por fim o samba foi gravado com um reforço de grandes ritimistas como: Preto Andarai e Canuto – nos Tamborins.
Um fato desta época é que não era posivel registrar certos sons ainda nas matrizes de cera, como do surdo por exemplo. Como o grupo já havia dado retorno para a gravadora com as emboladas a gravação foi uma inovação fonográfica. Quando se deu o lançamento a rua do Ouvidor viu- se parada, todos queriam comprar e muita gente se confundia : vc tem o disco? “Na Grauna” “Na Grauna” . 
Bando de Tangaras
"1931/1932" O Conjunto inovou pela segunda vez com o samba “Batuque na Lata” onde foram utilizadas latas como instrumentos, Noel tocou uma lata de Querosene!
No Primeiro grande sucesso de Noel "Com que roupa?" muito se falou sobre a ligação desse samba com uma história de Noel querer sair certa noite com seus amigos e ser privado pelos seus pais, história essa totalmente inverídica,”Com que Roupa?” era uma gíria usada em Vila Isabel, assim como outra que era muito usada “Vai Quebrar?”.
Noel levou a letra para seu amigo Homero Dornelas, compositor do sucesso “Na Pavuna”, para editá-la ao Piano esse logo o chamou a atenção para o possível plágio involuntário sobre a melodia do “Hino Nacional” “Ouviram do Ipiranga... Agora vou mudar minha condutaaa".
Ele se consagra de vez como compositor quando grava “Gago Apaixonado” e também da o seu primeiro brado a favor da Vila com os sambas "Com que roupa" e "Eu vou pra vila".
Por volta das 17:00 Horas no Rio existia um tal “FIVE CLOCK PIST” uma espécie de chá dançante com musicas estrangeiras , isso logo mudou pois muita gente queria conhecer o Samba dos Grupos Regionais.
Noel cursava seu 1ª ano de medicina e fez um samba no café Nice chamado “Coração” ao sair de uma aula de anatomia. Notando toda essa transformação cultural escreve o samba "Não tem tradução".

"1932/1933" Tem inicio sua parceria com Francisco Alves e Ismael Silva.
Noel costumava apelidar seus carros com nomes peculiares como “VIRA MUNDO”, por onde passava a criançada ia gritando atrás dos estouros de escapamentos e muita fumaça. Pelas parcerias dedicadas a Francisco Alves e Mario Reis ficou acertado um novo automóvel à Noel. Algumas das canções nascidas destas parcerias são "Preciso discutir", "Para me livrar do mal", "Uma jura que fiz", "Adeus"....
Mario Reis,Francisco Alves e Noel Rosa


Noel faz uma turnê em Porto Alegre com Francisco Alves, Mario Reis, Peri Cunha e Nono para uma série de aprensentações no teatro Guarani, “Noel se apresenta de Paletó Branco, talvez de um garçom de manequim muito maior que o dele”, em sua volta vitoriosa ao Rio apresenta um samba de parceria com Nonô chamado “Vitória”.
Teve inúmeros parceiros, com Heitor dos Prazeres fez a marcha “Pierrô Apaixonado”,  seu parceiro preferido era Vadico, e com Ary Barroso fez o seu primeiro samba em parceria "De Qualquer maneira"

"1933" Apresentou um samba cujo o estrebilho dizia-se Donga ser o autor que até rebateu com um samba idêntico “Quando você morrer”, na verdade o estrebilho veio de um tal Rubens do Estácio e a idéia melódica foi Almirante que batendo numa caixa de fósforos mostrou a Noel, a idéia da melodia fora ouvida de sambistas anônimos lá pelas bandas de São João de Meriti, estes jamais se deram a reclamar os direitos do samba.

"1934" Um sambista ainda pouco conhecido fez um samba chamado “Lenço no pescoço” retratando a malandragem do Rio de Janeiro, Noel sem ao mesmo o conhecer pessoalmente rebateu com um samba chamado “Rapaz folgado”. Passou-se quase um ano para que um dia em um café viessem a se conhecer e acharam muito engraçado o que as revistas e jornais diziam sobre a rivalidade entre os dois.
Uma moça da Vila havia ganhado um concurso de Miss Primavera e Noel fez um samba em homenagem a Vila Isabel “Feitiço da Vila”, logo os compositores também começaram a fazer sambas em homenagem aos seus bairros. Zequinha Reis e Assis Valente defenderam a Mangueira por ser a 1ª,  muito se achou que Noel fez o samba “Palpite Infeliz” em resposta a esse samba, mas como Wilson Batista seu amigo e companheiro de polêmicas tinha feito um samba para Noel com o nome “Conversa Fiada” Noel rebateu com o “Palpite infeliz”
A Imprensa ainda insistiu muito que o samba de Noel era resposta para a Mangueira, mas o pessoal dos bares e cafés sabiam e indagavam a Wilson para uma resposta e ele retrucou com “Frankstein da Vila”.
Correu um boato que Noel saiu comprando todos as revistas que traziam a letra de Wilson. Noel se divertia muito com isso, Wilson ainda escreveu “Terra de Cego” para Noel, certa ocasião se encontraram e Noel propôs fazer um samba atestando a amizade entre os dois, mas logo Wilson veio para São Paulo e só se concluiu o samba muito após a morte de Noel, com letra de Noel e Musica de Wilson Batista.

"1935" Escreveu peças radiofônicas como o “Ladrão de galinhas” e paródias como o “Barbeiro de Cevilha”, ele chamavas suas obras de Revista Radiofônicas.
Noel sempre atento ao seu pai, Sr.Manuel, homem que trabalhava muito e era digno e honesto compôs o samba "Onde está a honestidade" alfinetando aquelas pessoas que viviam ostentando luxo e riquezas mas de origem sempre duvidosa.
Certa ocasião uma moça pediu uma ajuda a Noel, uma certa quantia de 100 mil Réis para comprar um “Soirée “ para poder começar a trabalhar de dançarina em um café, Noel logo a atendera, mas chegando ao Café notou que a moça flertava com um rival seu...
Noel não deu o dinheiro mas deu a ela o samba "Cem mil Réis".
Noel Andava meio que de lado pelas calçadas, com o ombro do lado para rua suavemente apontando para para traz, o tal “andar de quina “como assim conhecido na época. Quando saia a noite para suas serestas ou para seu trabalho como ele próprio assim chamava, estava sempre a seu lado um tal Paulo Neto, homem de porte físico descomunal e que nenhum guarda noturno se metia a interromper as canções de Noel.
Se chovesse todos iam para dentro do seu carro o “Vira-mundo” que mesmo de capota levantada era preciso usar guarda chuva, Noel acompanhava um grande seresteiro chamado Alegria ou Alegria da Vila, até escreveu para “Alegria” uma valsa “Mardade de Cabloca”
Sua fama era tão grande que muita gente relacionava o “Imenso Noel Rosa” com um homem alto e forte, até certa visita na casa de uma mulher que ao receber Noel na porta de sua residência não deixou passar despercebido seu espanto, Noel até perguntou se ela estava se sentindo bem, mais o fato ficou registrado com este samba "Mentira Necessária".

Algumas frases e pensamentos de Noel”
Mulher rica presa em casa é igual o seresteiro em noite de chuva.”
Mais fácil almoçar na casa de parente que trabalhar para o insuficiente”
A vocação é necessária até para se dar um nó em uma gravata”
A mulher é o aperitivo que ajuda o homem a comer o prato indigesto da vida “
A mulher original é aquela que não procura se diferenciar das demais”
Prefiro ser um bom sambista que um mal médico” 


Muitas vezes precisava se defender de ataques que sofria pelo fato de sua escolha ao samba, mas a resposta estava sempre a espera
A essas afrontas pessoais a nossa cultura Noel respondia da melhor forma possível e da maneira que só ele podia descrever com seus sambas .
As amores de Noel, Clara, Fina, Ceci, Julinha, Mercedez e Lindaura entre outras, aos quais não saberemos descrever com exatidão para quem Noel dedicava seus sambas como "Sorriso de criança" que foi a primeira gravação de Aracy de Almeida.
Clara” foi o amor de infância de Noel, os pais consentiram esse tipo de relacionamento mas logo Noel conheceu Josefina ou a “Fina” com esta teve seu primeiro golpe amoroso quando a viu partir para São Paulo.
Noel casou-se com 23 anos e sua esposa “Lindaura ou Linda” como ele a chamava com 16 anos, muitos acharam que o samba "3 apitos" ele fez para ela, mas não, este samba era para a Fina que trabalha em uma fabrica de botão, com tantos amores Noel fazia sambas ora dizendo se apaixonado como no “Pela décima vez” e ora dizendo que não queria mais amar a ninguém, como no "Quem ri melhor"
As brigas entre Noel e Linda logo vieram, pois o salário de Noel era inconstante com seus cachês e direitos musicais, Noel não permitia que ela trabalhasse fora de casa, e o único samba que Noel fez a sua esposa foi aquele que conta exatamente este dilema na vida do casal, "Você vai se quiser"
Ate que por volta de 1934 na Véspera de São João em um cabaré da Lapa Noel conhece “Ceci “que trabalha de Dançarina, como Noel era muito ciumento mas não tinha condição de tirar ela daquela vida, este fato logo virou um tormento entre eles além de que Noel às vezes a espancava como retratado no samba “Maior Castigo”, e também Noel já era homem casado. 
Sua esposa Lindaura

Noel desacreditava de tudo que Ceci falava. Certa noite no café Nice, às pressas com ajuda de um amigo o “Capitão Floriano” consegue -se um piano para escrever um samba para Ceci, mas a comoção o impediu, e só após sua morte, Vadico terminou o Samba"Pra que mentir"

Café Nice
 
Já muito doente Noel procura Ceci e pede que ela segure sua mão e compare a um copo de cerveja, ele indaga a Ceci: Você sabe que dia é Hoje ? Ela diz não saber e ele diz: Hoje é 11 de Dezembro! Noel passa a noite com Ceci sentado ao lado de sua cama delirando de febre, depois disso Noel desaparece; e Ceci só tem Noticia de Noel através de Vadico, ela decide ir a própria casa de Noel , que não esta por lá, sua mãe atende Ceci e recebe o recado.
Horas depois na Noite de Domingo Ceci tem grande surpresa ao escutar na Rádio Noel Cantando um samba inédito que acabara de fazer " Só pode ser você"
Poucos dias antes de sua morte Noel procura Ceci e pede perdão por um sujeito bêbado que acusa Ceci por tudo que Noel esta passando, seu estado de saúde se agrava e Noel deixa para Ceci sua despedida seu "Último desejo" ...
Por volta de 34/35 ele a pedido de seu amigo e Médico Dr.Edgard Noel vai à Belo Horizonte a procura de ar puro e de se afastar das noites frias, mas logo se enturma por lá e até encontra um parceiro, o então ainda estudante de Direto Erve Cordovil e faz o samba “Triste Cuica”.
Noel escreve uma carta dando um parecer de seu estado .....

1936 Noel começa a escrever as musicas para o filme Cidade Mulher, como as gravações eram quase sempre à noite  isso acabou custando mais um pouco da Saúde de Noel.
Com a ajuda dos amigos consegue afastar-se novamente do Rio indo para o subúrbio em Friburgo. Noel escreve a Almirante pedindo desculpas pela caligrafia e diz que faz muito tempo que não escreve, e que se continuar assim logo não consiguirá mais nem falar.

Amigos
Fato que não ocorreu pois Noel volta para o Rio com vários sambas inéditos,  sua interprete preferida da época Marilia Batista grava "Quantos beijos" que possui melodia de Vadico
Foto histórica pertencente ao acervo do cantor Almirante, nos estúdios da rádio Mayrink Veiga Mário Moraes, Cyro de Souza, Henrique Batista [irmão de Marília, também compositor], Marília Batista, Fernando Pereira, Renato Batista [irmão de Marília, também compositor] e Noel Rosa.
Mas nenhum desses sambas guarda em seus versos a Alma do Poeta que ficou eternizado em sua lápide de sepultura no mais expressivo dos epitáfios.
Luto preto é vaidade
E vaidade não tem cor
O meu luto é saudade
e saudade não tem cor
Noel raramente se alimentava com alimentos sólidos devido a seu problema no maxilar, preferia sempre uma “sopinha de leve” e para agravar ainda mais abriu se uma fístula em seu dente do lado esquerdo e ele teve que passar por uma dolorosa cirurgia com “Dr. Bruno de Moraes” amigo e vizinho de Noel. O samba “Sei Sofrer" descreve todo esse suplicio por ele vivido.
Aracy de Almeida o grava acompanhada por “Benedito Lacerda” este que logo após a gravação se dirige a casa de Noel.
Pelas ruas notou que na casa de “Sabonete” havia uma festança e estavam cantando um partido alto de Noel, que desafiava aos versos os membros da roda.
Mas ao chegar na casa de Noel, vem a notícia, Noel que acabara de recebera a visita de (? ) pede para  que seu Irmão “Helio Rosa” o ajudar a se deitar pois não se setia bem, Noel alcança a penteadeira e bate em ritimo preciso diminuindo gradativamente o compasso Era dia4 de Maio de 1937
Noel se foi, vem daí a lenda que Noel Rosa foi embalado até os últimos minutos de sua vida pelo ritmo do samba...
Viuva de Noel Rosa - Lindaura
Fonte: Programa Radiofônico "No Tempo de Noel Rosa" Depoimentos de Amigos e Amores de Noel Rosa

 
"Sei Sofrer"


"Vamos Falar do Norte"

Quando nos saímos do norte
Foi pra no mundo mostrar
Como canta aqui nesta terra
Um bando de tangarás
Uma madama pra fazer economia
comprou as perfumarias num tutu que ela encontrou
Saiu pra rua perfumada em todo canto
o perfume fedeu tanto que a madama desmaiou, ai…
(refrão)
Meu tangará, meu curió meu terra-a-terra
E o meu canario da terra que é danado pra cantar
Eu tambem canto uma semana um mês inteiro
E quando eu canto no terreiro inté a lua quer sambar, ai…
(refrão)
Eu fui fazer minha compra na feira
Eu vi tanta roubalheira de se encabular
Tava um sujeito de roubar com uma tal febre
Vendendo gato por lebre, ratazana por gambá, ai…
(refrão)
Na sepultura que eu fiz pra minha famia
Tinha um freguês por dia para se enterrar
Na minha vez quando eu cheguei ao pé da cova
Apesar de ela ser nova jé não tinha mais lugar, ai…
(refrão)
E lá no norte quando é boa a brincadeira
Lá tem bala e tem madeira, tem tabefe tem punhá
Mas eu não temo nem cacete e nem garrucha
Levei dez tiros na fuça e depois disso eu fui sambar, ai…
(refrão)
Dei um emprego ao filho do Zacaria
Só das onze ao meio dia que tinha que trabaiá
Mas o malandro pegar peso não podia
E além disso inda queria hora e meia pra almocar, ai…
(refrão)


Depoimento de Braguinha



Prologo

Certa vez um malandro me perguntou aonde eu queria chegar com o samba e com a música.
Naquela época muito pouca gente fazia samba pra ganhar um trocado; o sereno era mais gelado e matava  mais que a saudade.
Noite adentro o samba comia solto nos quintais e esquinas, bebia-se muita cachaça, sim sinhô! E a ultima coisa que se pensava era em chegar a algum lugar. Mesmo assim esse carinha de quatro arames me levou de apartamento de  seu dotô, até a mais pesada quebrada do mundaréu, e uma coisa que jamais mudou nesses anos todos, foi exatamente a "Hora do Breque"
Dessas paradas conheci muita gente, muita gente que já se foi, muita gente que jamais encontrarei, os grandes amigos, minha querida e amada esposa, eterna companheira a quem dedico este Blog e estas poucas e humildes linhas de lembranças e recordações de um tempo que aos poucos se afasta mas não se apaga jamais.
Depois de tantos anos, enfim a reposta é agradecer por tantos anos de felicidades e conquistas.
Ter conservado essas amizades e o respeito foi um feito nesse mundo imenso, foi exatamente aonde eu escolhi chegar e só tenho a agradecer a Deus!


Segue ...
(Eu) Casinha de Barro que cresci.